Cada um a sua vez, faz algo bem feito logo de inicio, no meio do círculo, e somos em seguida aplaudidos pelos colegas. Os exercícios vão aparecendo, uma maneira de pular corda em que cada integrante do grupo é necessário, uma variação de o rei mandou só que menos déspota chamada “Jack falou”, o “Flick Flack” com ritmo e concentração em mais de uma coisa ao mesmo tempo e se algum(a) infeliz cometesse por desatenção um erro, lá vinha uma bela jornalada. Em meio a tudo isso aprendemos que o palhaço trabalha com a genitália , com o estômago, com o coração e com um pouquinho do cérebro apenas o suficiente para não ser alienado e não ser manipulado pelos outros. Que o 3 é o número sagrado do palhaço, e que freqüentemente uma gag se repete três vezes antes de se concluir.Que a lógica do palhaço é ir sempre pelo mais complicado sem ter consciência disso.

O trabalho com o nariz nos conduzia para improvisações em frente a um público, o que nos deixava num grau altíssimo de exposição. A menor máscara do mundo é a que menos esconde e a que mais revela. Pepe me chama, vou para trás do biombo coloco um chapéu e um nariz vermelho. Respiro fundo. Sei que tenho que deixar e mente aberta para o que vai acontecer dentro de alguns instantes. Bato no tambor pedindo autorização para entrar. Saio do biombo, paro em frente aos meus colegas, encaro eles, e procuro em seus olhares revelar o meu olhar, estou com um nariz de palhaço. Abro os braços num sinal pedindo a aceitação através de aplausos...recebo muitos aplausos, bravos, gritos de lindo e gostosão...me deixo afetar. E recebo muita energia, embora teve momentos em que me fechei , a emoção estava à tona. O público pode ver quando me fechei em couraças invisíveis ou me permiti ser afetado pelas circunstâncias. Depois saio e antes de ir embora um até logo, pois o palhaço nunca diz adeus e sim até mais.
Os dias passam as jornaladas são freqüentes, mas há um progresso nos exercícios. O grupo vai ficando íntimo e trabalhando o ridículo em cada um. E há tanto de ridículo no ser humano.
Aparece uma cadeira no curso e ela nos convida para mais um enfrentamento. O jogo com a platéia a partir de uma cadeira, sem gags pré-concebidas, sem narrações fenomenais, sem couraças. O convite é aceito, no entanto, manter os quinze minutos de exercício sem inventar escudos para se proteger na fragilidade da exposição, nos deixa transtornados, afetados e desesperados. Procurar algo para se segurar é a primeira coisa que lhe ocorre na solidão da cadeira. Respirar é essencial, jogar com os olhos necessário, mostrar o palhaço é fundamental. A menor máscara do mundo é a que menos esconde e...
Por incrível que pareça toda essa exposição é boa, quando você percebe que os observadores estão rindo que de alguma maneira eles compartilham daquele momento contigo você se sente confortável no desconforto, e você não sabe se quer ficar ou ir embora,mas o palhaço quer ficar e ele fica e quando está acabando o tempo ele fica desesperado querendo alongar o tempo ganhando mais “dez miléssimas” de segundo.
Pepe sugere então que se imite a Gisele Bündchen, uma galinha, ou que se execute algumas outras ações, o que todos fazem com uma proeza ridícula.
E também existe aquele ator que quer sair o quanto antes da cadeira, esse começa a ganhar segundos e minutos, a todo o momento, aumentando o seu desconforto e provocando risos nos colegas de curso. Depois saio e antes de ir embora um até logo, pois o palhaço nunca diz adeus e sim até mais.
Assistimos a alguns filmes, recebemos material e referências para estudo e descobri até uma organização internacional, a palhaços sem fronteiras (http://www.clowns.org/).
O tempo que nunca deixa de bater contra os que esqueceram como se vive, não nos atingia, nos tornamos crianças, verdadeiras doutoras em não conhecer o tempo. Brincávamos numa íntima entrega.
Vivemos mais um enfrentamento após mais alguns exercícios. Preparei uma música para apresentar, a melhor que podia apresentar para meus colegas, cada um tinha a sua. Em traje social vínhamos individualmente apresentar, no entanto, a surpresa (a surpresa que gera o riso). Havia pessoas em cena, elas interferiam na nossa apresentação de maneira boa ou má, e nos deixavam constrangidos ou extasiados.
O riso foi pedra fundamental da semana. Rimos dos outros e de nós mesmos. Rimos das circunstâncias. Rimos das rimas e dos ritmos. E o riso extravasa, enfrenta e substituía lágrima. Preparamos a nossa apresentação para a sexta-feira a noite, no “Aldeia Palco Giratório”, agora uma platéia que não era nossos colegas de curso, foi gostoso demais. Valeu a pena até mesmo por que a alma do palhaço não é pequena, então, sempre vai valer a pena. A menor máscara do mundo é... Depois saio e antes de ir embora um até logo, pois o palhaço nunca diz adeus e sim até mais.
Um comentário:
"A menor máscara do mundo é a que menos esconde e a que mais revela."
Isso é demais!!!
Até logo...
JÔ
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